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QUAL O PAPEL DA HISTÓRIA HOJE?

  • Foto do escritor: Leonardo Soares dos Santos
    Leonardo Soares dos Santos
  • 2 de set.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 2 de set.

Em se tratando de um país que tão pouco investe em educação e que despreza o papel social da cultura em nossa formação, é muito mais fácil pensar no que o historiador não espera realizar quando se decide por fazer o curso numa universidade ou faculdade. Nenhuma pessoa cogita seguir tal carreira para ganhar dinheiro. Esse sempre foi um dilema não apenas da História, mas de todos os cursos de licenciatura: uma carreira que exige uma vida de apertos e limitações de ordem econômica, embora tenham importância crucial para a formação intelectual de uma Nação.


Mas penso que hoje a situação é mais complicada. O mercado de trabalho para quem se forma historiador é mais restrito, seja devido ao decréscimo de concursos públicos na área de ensino, às sucessivas reformas curriculares que roubam horas-aula dela, a crise que assola as escolas privadas etc.


E como o que já era ruim pode sempre piorar, o mundo atual apresenta mais um desafio que poderia desencorajar quem se dedica a viver do ofício de Historiador: estou me referindo à ofensiva de grupos de extrema-direita ao campo de produção de pesquisa e ensino em História.


Encontra-se em curso a tentativa de realização de um ousado projeto de reescrita da História. Temas, objetos e perspectivas críticas são hoje alvo de diversas tentativas de reformulação com o claro propósito de desacreditar princípios historiográficos baseados no rigor do método cientifico. É o já velho “revisionismo histórico” em ação. E que para parecer mais moderninha e mais sedutora diante do público jovem resolveu se apresentar como “história politicamente incorreta”. Jogo pueril de palavras que tem como objetivo supremo legitimar violências, pilhagem e destruição, simbólica e física, de culturas, de sociabilidades e de grupos sociais que simbolizam tudo aquilo que uma certa visão de direita sobre o mundo busca exorcizar.


É contra esse projeto que hoje temos o dever de nos insurgirmos. Em face da ameaça representada pelos revisionismos inescrupulosos de grupos conservadores, mais do que nunca o nosso trabalho se mostra socialmente necessário. Pois é um trabalho que não se volta exclusivamente para a realização de ambições pessoais. Trata-se de um empreendimento que se destina ao bem comum, que possui caráter coletivo (feito por muitas mãos e cabeças diversas) e que se baseia na defesa de princípios inegociáveis (o respeito à veracidade dos fatos, a centralidade do conhecimento cientificamente fundamentado, o compromisso com o argumento crítico).


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Não podemos permitir que a História, enquanto campo de produção de conhecimento, seja usado como arma nas mãos dessa direita inescrupulosa. Inaceitável que experiências como a escravização de africanos sejam relativizadas, que a Ditadura Militar seja festejada, tratada como um marco civilizatório, fonte de segurança, bem-estar e progresso; que o Golpe Militar de 1964 seja classificado como “contra-golpe” ou “ato que salvou a nossa democracia”; que o genocídio das populações originárias do Brasil afora seja ridicularizado, avaliado cruelmente como algo trivial. É um processo secular de limpeza étnica normalizado, acionando para isso, os recursos do campo da História.


É contra absurdos como esses que a História deve orientar suas energias, radicalizando seu compromisso com o conhecimento crítico e com a ação pública.


Esse é o papel que o presente nos impele, enquanto historiadores e historiadoras, a exercer.

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