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60 ANOS DA DESAPROPRIAÇÃO DE GARDÊNIA AZUL

  • Foto do escritor: Leonardo Soares dos Santos
    Leonardo Soares dos Santos
  • há 4 dias
  • 3 min de leitura

Pouca gente lembrou, mas o ano de 2025 marca o 60º aniversário da desapropriação de Gardênia Azul pelo Governador do então estado de Guanabara Carlos Lacerda, fato ocorrido em plena ditadura empresarial-militar.


Talvez as pessoas de hoje não tenham noção do quanto é inusitado que numa mesma frase figurem os termos “Carlos Lacerda”, “desapropriação”, “ditadura” - mas isso aconteceu e foi no Gardênia. E o fato de ter acontecido só demonstra a força dessa comunidade, que fez valer suas demandas, mesmo numa conjuntura tão difícil, onde a repressão política fazia parte do cotidiano, sofrendo várias ameaças de despejo, convivendo com inúmeras precariedades de ordem material e tendo ainda que estabelecer uma interlocução com um governante (e maior líder da direita na época) que se notabilizava exatamente por promover uma série de “remoções” de populações de favelas, e que se sentia mais ainda fortalecido após História da Região 60 anos da desapropriação de Gardênia Azul ver vitorioso o movimento golpista que ele tanto apoiou e articulou.


Quem quer visse esse cenário com razoável objetividade, tinha certeza de que estava fadado ao fracasso o intento daqueles modestos moradores de uma localidade quase que escondida no meio da Baixada de Jacarepaguá, a partir de onde ainda era muito difícil o acesso a outras áreas da cidade. Porém, os moradores de Gardênia Azul não eram pessoas quaisquer. Vinham batalhando arduamente desde o final dos anos 1950 por uma solução. Contra tudo e contra todos seguiram em sua luta e foram perseverando um dia após o outro, aproveitando toda oportunidade que aparecesse em prol do mais modesto e ínfimo avanço. E todo o empenho, coragem e abnegação acabou sendo recompensado.


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Depois de intensa negociação e pressão – tudo ao mesmo tempo – junto às autoridades políticas, especialmente aquelas ligadas à administração Carlos Lacerda, os mais de 600 moradores por meio de sua campanha conseguiram dobrar aquele, forçando-o a assinar o decreto de desapropriação no dia 10 de março de 1965. Fato notável, porque vivíamos a ditadura militar-empresarial, que desde o início havia procedido a uma violenta repressão de movimentos que reivindicavam direito à terra (seja no campo, seja na cidade). Não havia espaço para a política ou simples conversa: os governos militares estavam decididos a tratar a questão fundiária na base da violência, usando a bala se preciso. E nem assim o povo de Gardênia arredou pé. E muito menos se intimidou com o governador udenista que se notabilizou por aterrorizar e destruir a vida de milhares de famílias de moradores de favelas do Rio.


Mas essas mesmas pessoas sabiam que a conquista da desapropriação era tão somente uma vitória parcial. Havia ainda muito pelo que lutar. A fala de Antonio Silvino, um antigo morador de Gardênia Azul, em entrevista concedida a Angela Fontes na primeira metade dos anos 80, Diário Carioca, 13/03/1965 assim retrataria a situação: “Em 1965, o governador Carlos Lacerda queria desapropriar para utilidade pública, o que desapropriava a nós também. Nós resistimos. Mantivemos a posição firme em torno da desapropriação por interesse social, direitos de terceiros e adquirentes. Então, em 65, num dos últimos atos de Lacerda, a assinatura do decreto da desapropriação por interesse social. Muito bem! Mas o Lacerda saiu e ficou só assinatura” (Gardênia Azul: o trabalho feminino na produção do espaço urbano, p. 80).


Portanto, havia todo uma gama de serviços urbanos a serem devidamente implantados no território, ou seja, a localidade ainda precisava de um verdadeiro plano de melhoramento urbano. Transferi-lo do papel para a realidade, eis uma peleja que ainda se arrastaria por décadas.


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