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JACAREPAGUÁ EXPLOSIVO

  • Foto do escritor: Leonardo Soares dos Santos
    Leonardo Soares dos Santos
  • 25 de out.
  • 2 min de leitura

Era muito difundida até o início dos anos 2000 a ideia de que a urbanização desenfreada que passou a varrer a agricultura de boa parte da antiga zona rural da cidade a partir dos anos 1950 foi uma dádiva. Não por acaso, o processo foi classificado por muitos pesquisadores (geógrafos, sociológos, historiadores, economistas e por agentes ligados ao campo do planejamento urbano) como “evolução urbana”.


Ou seja, tratava-se de um fenômeno positivo que ajudou no “crescimento” da região, salvando-a do atraso, livrando-a de uma marca rural indesejável. Tanto assim que o território deixaria de ser chamado de Sertão Carioca, nome que por si só denunciava os atributos agrários do lugar, para ser conhecido como Zona Oeste, que ao contrário do anterior, indicava a ambição de ser reconhecida como parte integrante da cidade.


Outra ideia também consagrada no bojo desse mesmo processo de urbanização foi de que a brusca e rápida transformação da paisagem geográfica da região se deu sem resistências ou impedimentos. É como se as transformações no espaço não implicassem em impactos em termos de estrutura e relações sociais.


Toda a história dessa evolução era contada como uma simples oposição entre o moderno versus antigo, progresso versus atraso, urbano versus rural.


O fundamental é reconhecer que o que se passou foi muito mais do que essas oposições simplistas.


Mas é preciso ter em conta também que a chamada “evolução urbana” que engolfou o antigo Sertão Carioca não foi um processo desprovido de conflitos. E esse – a ausência de conflitos - é outro aspecto exaustivamente consagrado não apenas pelo senso comum sobre a história da região como também em estudos respeitados sobre o tema. E precisamos declarar: se pudermos resumir a expansão urbana da antiga zona rural em uma frase, diríamos que ela foi pavimentada por muita violência e contendas sangrentas.


Curiosamente, se esses conflitos foram apagados da memória histórica, eles berravam nas paginas dos jornais de época, principalmente nos anos 1950 e início dos anos 1960. E eles pipocavam em vários pontos do território. E tais violência pesaram na maior parte dos casos contra humildes famílias de pequenos lavradores e pescadores. Assim foi na Curicica, onde o Banco de Crédito Móvel e outros pretensos proprietários tentaram expulsar arrendatários que lá moravam desde os anos 1920; no Camorim e nas Vargens, dezenas de lavradores (muitos deles portugueses) sofreram inúmeras ameaças de bancos; na Gardênia Azul, centenas de moradores sofreram com o descaso do antigo proprietário, e tiveram

que arregaçar as mangas para conseguir a desapropriação da área; em Rio das Pedras a briga explodiria em meados dos anos 60, envolvendo moradores e uma companhia imobiliária; na Barra da Tijuca, as disputas de terras produziram mortes, a mais famosa ocorreu na antiga Fazenda da Restinga em 1953. Ou seja, as transformações que revolucionaram a região a partir dos anos 50 não foram nada triviais, como um conto de fadas que tanta gente teima em vender. Foi o contrário disso, rolou muita bala, ameaças, depredações e sangue. E segue rolando...


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