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PRIMEIRA DAMA DO SAMBA

  • Janis Cassillia
  • há 4 dias
  • 3 min de leitura

D. Ivone Lara atuou na humanização do atendimento psiquiátrico

e iniciou seu percurso profissional na Colônia Juliano Moreira.


Yvonne Costa Lara ou D. Ivone Lara é conhecida como umas das grandes cantoras e compositoras de samba no Brasil. Ela foi a primeira mulher a assinar uma composição de samba enredo em 1963 e foi compositora de sucessos como a música “Sonho Meu” em 1978. Mas um capítulo pouco mencionado foi seu pioneirismo na saúde mental e na assistência social no Brasil. Ivone Lara foi uma das primeiras assistentes sociais negras do Brasil, uma das pioneiras no processo de consolidação da assistência social e que atuou junto com a médica psiquiátrica Nise da Silveira no atendimento humanizado e no empoderamento de pessoas com transtornos mentais através da arte. Capítulo menos mencionado ainda, foi sua atuação na Colônia Juliano Moreira, entre 1943 e 1947, local do início de sua carreira profissional.


Mulher negra, pobre e orfã, a jovem Ivone via nos estudos a opção para conseguir melhores condições de vida. Aos 17 anos trabalhava na antiga fábrica de tecidos Nova América (hoje o Shopping Nova América). Em 1943 formou-se enfermeira-visitadora social pela Escola de Enfermagem Anna Nery, e classificada como umas das primeiras de sua turma, foi admitida na Colônia Juliano Moreira, hospital psiquiátrico do Serviço Nacional “Primeira Dama do Samba” D. Ivone Lara atuou na humanização do atendimento psiquiátrico e iniciou seu percurso profissional na Colônia Juliano Moreira de Doenças Mentais do Ministério da Educação e da Saúde.


Durante o governo autoritário de Getúlio Vargas, conhecido como Estado Novo, houve um incentivo à criação de grandes estabelecimentos hospitalares que atendessem uma demanda de pacientes à nível nacional. Nesse período, a Colônia Juliano Moreira passou de um asilo de alienados para um macro-hospital, e junto do Centro Psiquiátrico Nacional, no Engenho de Dentro, formavam as maiores instituições psiquiátricas da cidade do Rio de Janeiro. De 700 internos no início de 1930 passou a atender cerca de 4 mil pessoas internalizadas até 1940, homens e mulheres, adultos, adolescentes e idoso de todos os cantos do país. Pobres, considerados indigentes e sem contato com os familiares.


Foi nesse contexto que Ivone Lara chegou à Colônia como enfermeira. Logo foi direcionada aos núcleos femininos, realizando trabalhos de rotina. No contato diário com as pacientes, muito provavelmente, viu de perto os tratamentos médicos que, mais tarde, foram condenados por ela, Nise da Silveira. Entre um plantão e outro, Ivone Lara continuou seus estudos na Escola Anna Nery, agora no curso de Assistência Social. Formada em 1947, ela foi transferida para o Hospital Gustavo Riedel, que integrava o Centro Psiquiátrico Nacional.


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No Engenho de Dentro, Ivone Lara formou uma parceria com a médica psiquiátrica Nise da Silveira, que revolucionou o atendimento psiquiátrico brasileiro ao propor opções humanizadas focadas nas artes e nas oficinas terapêuticas, ao invés de práticas invasivas e violentas, como o choque elétrico, químico e a lobotomia. Foi uma das profissionais envolvidas no processo da reforma psiquiátrica que permitiu modificar as formas de olhar e atender as pessoas com transtornos mentais.


Ivone Lara aposentou-se em 1977 e sempre se apresentando como assistente social. Sua carreira artística de sucesso lhe abriu portas mundo afora e permitiu mostrar o samba enquanto uma expressão cultural afro-brasileira, além de abrir caminhos para que outras mulheres tivessem oportunidades numa carreira predominantemente masculina. Mas também foi uma das primeiras profissionais negras da assistência social e da enfermagem no Brasil, engajada na luta pelos direitos humanos de pessoas com transtornos mentais. Dona Ivone Lara faleceu em 2018 aos 97 anos, mas deixou sua marca ao se mostrar uma mulher pioneira nas tantas áreas pelas quais passou.


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