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CONDOMÍNIO COM MAIS DE 30 MIL MORADORES PODE SER CONSTRUÍDO ENTRE RECREIO E VARGENS

  • Foto do escritor: Felipe Lucena
    Felipe Lucena
  • 22 de ago.
  • 5 min de leitura

Ambientalistas, ativistas e pessoas que vivem nos bairros questionam a obra que pode impactar diretamente na infraestrutura, no meio ambiente e na mobilidade urbana.


Local onde querem erguer o condomínio. Crédito da foto: Reprodução Google
Local onde querem erguer o condomínio. Crédito da foto: Reprodução Google

Com acesso principal pela Estrada Benvindo de Novaes e planejamento de outra entrada através da Avenida Salvador Allende, o projeto do "bairro planejado" Fazenda Parque Recreio prevê um condomínio com 9.799 unidades residenciais. Isso resultaria em 36,7 mil moradores na região que corresponde aos bairros de Vargem Grande e Pequena e Recreio.


O novo empreendimento imobiliário visa ocupar uma área de 158 hectares, sendo 90 com intervenções urbanísticas. Desses, 29 hectares (19%) se tornarão impermeáveis, o que pode afetar o equilíbrio ambiental da região, segundo ambientalistas.


O custo do projeto é estimado em R$ 1,19 bilhão. A área está protegida pela APA do Sertão Carioca e pelo Refúgio de Vida Silvestre Campos de Sernambetiba.


Além disso, há uma outra questão que foi alertada pelo jornalista e ambientalista Emanuel Alencar:

"É bastante preocupante um licenciamento de um bairro com 36 mil moradores numa região com histórico de alagamentos e com premente necessidade de proteção ambiental. Isso só se agrava quando o Ministério Público atesta o descumprimento de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), pelo espólio de Pasquele Mauro, desde 2004. O Rio precisa ocupar espaços vazios no Centro e Zona Norte, já dotados de infraestrutura. A Fazenda Parque Recreio, de propriedade dos herdeiros do empresário Pasquale Mauro, tem em sua história um grave incidente trabalhista. Em 2008, cerca de 70 pessoas foram encontradas em situação análoga à escravidão. A ação conjunta do Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro, da Superintendência Regional do Trabalho e da Polícia Federal constatou essa situação de servidão por dívida, salários não pagos, alojamentos impróprios e carteiras de trabalho retidas".

Emanuel falou sobre esse ponto durante a Audiência Pública, realizada em julho, para debater a obra do condomínio Fazenda Parque Recreio. A reportagem do Jornal Abaixo Assinado esteve presente.


A ambientalista Isabelle de Loys alertou sobre outros pontos:

"Isso representa a poluição, o grau de poluição que nós temos nesses corpos hídricos. E aqui até hoje, eu como moradora do Recreio há 18 anos, nunca vi uma mudança sequer nessa questão. Estamos falando de três bairros que não têm a mínima infraestrutura, como eu falei, não têm nenhum hospital. Você tem uma população, vamos supor, do Recreio só no Terreirão 80 mil pessoas. Isso só o Recreio, tirando o Terreirão em torno de 100 mil pessoas. Então, estamos falando aí de um quarto bairro. E imaginem 50 mil pessoas ou, pelo menos, 25, 30 mil frequentando a praia, indo à praia, porque provavelvelmente o construtor vai vender a ideia de que a praia está a 5 minutos de carro, de distância, ou 10 minutos, 15 minutos de bicicleta, onde você não tem uma ciclovia, que realmente te leve até a praia, você não tem acesso à praia para esse número de pessoas, sem contar também que condomínios como esse, você acaba tendo muitos ônibus de fretamento que levam o morador. Nesse caso devem levar até o Jardim Oceânico. Assim, um outro bairro vai ser impactado com essa obra: o Jardim Oceânico, porque vai receber também milhares de pessoas com o destino ao centro do Rio para trabalho. Enfim, não tem capacidade para isso".

Isabelle de Loys também falou sobre a área onde querem fazer o condomínio receber toda a drenagem do maciço da Pedra Branca.

"Você tem ali dezenas de condomínios na 'Rua do Zico' que ficaram praticamente isolados, dois anos atrás mais ou menos, numa chuva. Foi uma chuva atípica, mas a gente sabe que são mais frequentes, cada vez mais. Tivemos essa população toda de pessoas ali ilhadas, sem poder sair, sem poder comprar uma água, um alimento, nada. E o mesmo vai acontecer com o entorno, as comunidades ali em volta. Por mais que eles aterrem, eles vão ficar mais altos do que alguns condomínios, não só a comunidade, mas condomínios de casas também".

A ambientalista completou:

“Essas áreas vão ser alagadas. É muito sério isso. Além disso, é uma área que tem, inclusive, um processo, o REVIS, que é o Refúgio de Vida Silvestre, que tem que sair do papel e tem que ser aplicado. E é extremamente importante porque nós temos uma fauna e uma flora muito importantes para a nossa região aqui da Zona Oeste. Eu concordo com o progresso, eu sou arquiteta, eu acho importante, mas eu acho que hoje a gente tem que repensar nessas terras a importância que elas têm, como eu falei, como drenagem, como equilíbrio. Como também uma área onde você concentra um número de fauna e flora. Então não adianta dizer que tem três morros tombados e que essa fauna vai ser afugentada para lá. Muitos animais são territorialistas, que não concebem reduzir o ambiente".

A previsão é que o empreendimento fique pronto nas próximas décadas, gradativamente. No entanto, mesmo que a médio ou longo prazo, o impacto nos bairros será grande. É assim que observa o arquiteto e urbanista Roberto Anderson.

" A possível ocupação da Fazenda Parque Recreio é um contrassenso já que, enquanto a Prefeitura licencia novos empreendimentos em áreas ambientalmente frágeis e distantes do núcleo da metrópole, a Zona Norte perde população em ritmo acelerado e a Área Central continua esvaziada".

A reportagem do Jornal Abaixo Assinado procurou a assessoria de comunicação do condomínio Fazenda Parque Recreio para ter a versão deles no texto.


Em nota, informaram que:

"o Parque Recreio é um empreendimento alinhado com o desenvolvimento urbano sustentável do Recreio dos Bandeirantes. O projeto trará benefícios à região, como a recuperação ambiental de margens de canais, além da preservação ambiental dos morros do Amorim e do Urubu, incluindo um reflorestamento com mais de 50 mil mudas nativas, que abrange os referidos morros e outras áreas de interesse ambiental. O empreendimento também trará melhorias viárias e benefícios ao trânsito na região, com a implantação de eixos importantes da cidade, como a Via 4, que conecta a Estrada Benvindo de Novaes à Avenida Salvador Allende.
O Parque Recreio vai contar com uma infraestrutura urbana de ponta, com a criação de vias, ciclovias, calçadas, além de uma praça pública com um lago artificial e áreas de lazer no seu entorno, contribuindo diretamente para a qualidade de vida e o ordenamento da região. O projeto prevê unidades distribuídas em blocos de até seis andares, com taxa de ocupação de apenas 15% da área total de cerca de 1,5 milhão de m², alta taxa de permeabilidade, prevendo cerca de 70% de áreas permeáveis sem ocupação edilícia e geração contínua de empregos locais.
O desenvolvimento imobiliário será planejado, escalonado e distribuído ao longo de 20 anos, de modo que os impactos sejam pulverizados por etapa. O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), celebrado para a recuperação ambiental da região, tem ações em andamento e outras à espera de licenciamento por parte dos órgãos públicos. Os empreendedores mantêm contato estreito com o Ministério Público para informar sobre o progresso das atividades. O Rio de Janeiro conta com investimentos privados em diversas regiões, incluindo as zonas Norte, Sul, Oeste e Central. É importante destacar que a demanda por serviços e melhorias é específica de cada área, sendo que essas demandas podem coexistir, não sendo mutuamente excludentes. Cada região possui públicos distintos, com necessidades próprias, e todas merecem atenção e investimentos públicos e privados".

2 comentários


Carlos Motta
Carlos Motta
29 de ago.

Mais um empreendimento numa região sem estrutura de mobilidade, educação e saúde, além da frágil ecologia local. Ou seja, autêntico capitalismo imobiliário selvagem !

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Marcelo Sant'ana Lemos
Marcelo Sant'ana Lemos
28 de ago.

Um desastre ambiental a mais para coleção da atual administração. Um impacto social e numa área que deveria ser preservada e não edificada.

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