A CRISE SILENCIOSA: POR QUE FALTA GENTE NO MERCADO DE TRABALHO?
- Isabor Dória

- 27 de ago.
- 2 min de leitura
“O apagão de talentos não está restrito à tecnologia. Ele vai do chão de fábrica às profissões tradicionais, que continuam vitais para a economia”
A falta de mão de obra qualificada está travando o avanço de setores estratégicos da economia brasileira. Empresas de diferentes áreas relatam dificuldades crescentes para contratar profissionais preparados, problema que já provoca atrasos, aumenta custos e compromete investimentos.
No setor da construção civil, a situação é alarmante: mais de 70% das empresas dizem não encontrar trabalhadores com a qualificação necessária, segundo dados da FGV-Ibre. O impacto é visível nos canteiros de obras. Em 2024, o número de vagas criadas caiu quase 30% em relação ao ano anterior, e a alta nos custos de mão de obra superou 8%.
A escassez não é exclusividade do setor. No varejo, executivos apontam a falta de profissionais como o principal risco para os negócios, à frente até das ameaças cibernéticas. Consultorias e indústrias também sentem o peso de um mercado onde sobram vagas, mas faltam candidatos preparados. O problema chega inclusive a áreas tradicionais como açougues e peixarias. Supermercados e comércios relatam dificuldade em contratar profissionais experientes para lidar com cortes, manipulação e conservação correta de carnes e pescados, funções que exigem habilidade prática, conhecimento técnico e, muitas vezes, disposição para trabalhar em ambientes frios. A ausência desses profissionais impacta diretamente o atendimento ao cliente e a qualidade dos produtos oferecidos.
Especialistas apontam várias causas para o problema. A formação técnica oferecida não acompanha as exigências do mercado. Profissões que exigem esforço físico, como pedreiros, açougueiros e montadores, atraem menos os jovens, que preferem empregos com maior estabilidade, melhores salários ou possibilidade de trabalho remoto. A alta rotatividade agrava o quadro: em alguns segmentos, o tempo médio de permanência não passa de seis meses.
O cenário econômico também pesa. Juros elevados e custos crescentes fazem empresas frearem contratações. Em paralelo, salários pouco compet itivos e práticas trabalhistas informais afastam profissionais experientes.
Para reverter esse quadro, especialistas defendem medidas urgentes. Entre elas, parcerias entre empresas e instituições de ensino, adoção de tecnologia para reduzir a dependência de mão de obra intensiva, valorização salarial, melhorias nas condições de trabalho e políticas públicas que incentivem a formalização.
Sem ação coordenada, essa crise silenciosa tende a se aprofundar. E o preço a pagar não será apenas das empresas mas de toda a economia, que perderá fôlego para crescer.







Comentários