Sobre o desmonte de museus, sonhos e utopias
Museu Nacional: tragédia anunciada
Taiany Braga Marfetan*
Vivemos um período eleitoral, talvez o mais difícil e turbulento de nossa história. Com certeza de nossa democracia recente. Momento de tristezas e incertezas. Tentativa de Reforma da Previdência, “modernização” trabalhista, aprovação do congelamento de gastos públicos em educação por 20 anos. Que país é esse que acredita que essas medidas irão favorecer nosso crescimento?
Já está mais do que comprovado que governos que investem em educação se desenvolvem, combatem a desigualdade social e reduzem a violência. Como conseguiríamos o mesmo objetivo fazendo o contrário? A quem beneficiam?
Já dizia Darcy Ribeiro, ”A crise da educação não é uma crise, é um projeto”. Num país em que a PEC 247, que congela por 20 anos os investimentos em educação, a escolha política dos governantes é a do descaso e do desmonte. Não foi tragédia, foi consequência.
Entre 2014 e 2016, fiz meu Mestrado em Geografia pela Universidade Federal Fluminense intitulado “A Quinta da Boa Vista, RJ, como espaço público favorável ao exercício da cidadania”, em que fiz visitas periódicas ao Museu Nacional e dedico um dos capítulos de minha dissertação para traçar um panorama histórico desse importante espaço de pesquisa, desde sua criação até os dias de hoje. Fiz entrevistas com frequentadores e também com os gestores do parque, do museu e seus museólogos.
O que encontrei? Um espaço degradado, abandonado pelo poder público e pessoas que trabalhavam como podiam para fazer funcionar, mesmo tendo a verba reduzida a cada período que passava. Em 2015 o museu chegou a ser fechado por falta de manutenção e condições de funcionamento.
Era uma tragédia anunciada com cupins nas paredes, fios desencapados, goteiras e infiltrações durante chuvas, salas fechadas por décadas aguardando novos equipamentos e restauração necessária. A última exposição só saiu do papel porque os museólogos decidiram fazer uma vaquinha virtual para arrecadar verba coletiva, e assim fizeram.
Portanto, fica a reflexão. Não adianta agora, depois de uma perda inestimável de patrimônio, memória e História, dizer que irão reconstruí-lo. Não irão. E, se o posicionamento público for o do “mínimo possível”, outros museus, escolas, universidades, queimarão no descaso. Não podemos esperar que as eleições mudem o cenário, que os governantes mudem as posturas. Façamos nós mesmos. A democracia é o governo do povo por essência. Sejamos povo, pelos que vieram antes de nós, e para os que deixaremos essa história.
*Professora de Geografia nas Redes Estadual e Particular de ensino do Rio de Janeiro e Mestre em Geografia Humana – Universidade Federal Fluminense.
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