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  • Jornal Abaixo Assinado

Caminhos de Deus


 Cineastas Paulo Silva e Júlio Pecly

Para homenagear os 50 anos da Cidade de Deus, o Jornal Abaixo-Assinado publicará mensalmente, até dezembro, uma série de reportagens e crônicas sobre a comunidade. Para inaugurar essa coluna, recebemos do cineasta Paulo Silva um belíssimo texto, “Caminhos de Deus”, escrito pelo saudoso cineasta Júlio Pecly.

Caminhos de Deus

Júlio Pecly*

Encravada entre a Barra da Tijuca e Jacarepaguá, aproximadamente 100 mil pessoas dividem pobrezas e problemas. Considerada uma comunidade carente, a Cidade de Deus, hoje um bairro, cresceu desordenadamente, sem infraestrutura. A ausência do poder público condenou a região a problemas crônicos como, por exemplo, o esgotamento sanitário.

As divergências e a falta de uma liderança única fizeram surgir diversas associações de moradores e amigos. A falta de união refletiu na situação confusa e diferenciada que vivem os moradores, uns em cubículos e barracos e, outros, em casas aparentemente mais confortáveis.

Muitos candidatos aproveitaram esta situação crítica em que a comunidade vive e, à custa de promessas que nunca seriam cumpridas, elegeram-se. Porém, logo após as eleições, desapareciam, voltando apenas de quatro em quatro anos, com as mesmas promessas.

Favela na horizontal, sem horizontes, sem perspectivas. Bem longe do mar, que se espraia lá nas areias da Barra da Tijuca e do Recreio dos Bandeirantes. Calor, sol escaldante, um castigo dos bairros da Zona Oeste. Mormaço sacrificando as pessoas, casa melhorada pelos proprietários, uma presença em qualquer das divisões da Cidade de Deus, seja nas “triagens”, nas casas ou nos apartamentos . Gente e mais gente nas ruas — por onde se anda, por todos os cantos, há movimento e rumor. a incrível filosofia carioca também montou casa. Nesse bairro, há funk, samba e pequenas festas. A Cidade de Deus, apesar dos padrões, é uma favela, e favela é o lugar onde mais se canta no Rio de Janeiro.

*Com a publicação desse texto, fazemos também nossa singela homenagem a Júlio Pecly – um ano após o seu falecimento.

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