SERÁ QUE SOU INDÍGENA?
- Pablo das Oliveiras

- há 3 horas
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De lá pra cá... daqui pra onde? Conto 6:
Todo mundo chama meu pai de Bira, mas o nome dele é Ubiratã… E o Kevin descobriu uma coisa incrível…
– Pai, eu quero te contar uma coisa…
– Conta pro pai! O que é?...
– Promete que não vai ficar bravo comigo?…
– Ihh, quando começa assim, é por que vem coisa… desembucha.
– Sabia que seu nome: U bi ra tã… significa “árvore de madeira muito forte”?... É nome indígena da língua tupi…
– E de onde você tirou isso, Bebel?
– Na internet pai. Sabe, eu achei muita coincidência, agora, o senhor está trabalhando com as árvores, né, paí?
– Muita, muita coincidência filha… dá um abraço… e desculpa o pai quando fica de cabeça quente… e sem paciência pra conversar. Pode deixar, eu vou lembrar que Ubiratã é uma árvore muito forte! Eu também quero te contar uma história que aconteceu há muito, muito tempo…
Meu Diário
Hoje, pai me contou um monte de coisa do tempo em que ele era criança. Coisas que eu ficava pensando e queria muito saber. E eu fiquei quieta… escutando tudo que ele contava.
– Filha, quando eu nasci, minha mãe e meu pai trabalhavam para missionários da igreja, numa aldeia indígena, no Mato Grosso do Sul. Essa igreja dizia que ajudava os indígenas. Além de ajudar, também levava pra dentro da aldeia as doenças do povo branco. Eu lembro que muita gente, dentro e fora da aldeia, morreu de malária. Meu pai e minha mãe também
morreram de malária… eu me senti sozinho e perdido, então fiquei vivendo na aldeia, com Vó Diacuí e meu amigo Porã, que tinha a mesma idade que eu.

– Vó Diacuí cuidava de nós na aldeia. Um dia, o pessoal da igreja pegou eu e Porã pra levar embora pra cidade. Vó Diacuí implorou pra devolver os netos dela... gritava e chorava: “aldeia é casa de Porã… de Ubiratã...” “Diacuí é avó de curumi.” “Deixa Diacuí criar neto Porá… neto Ubiratã”... O carro foi embora levando eu e Porã… e o som do maracá da Vó Diacuí foi sumindo ao longe. “Nós estávamos muito assustados, com muito medo, quando deixaram a gente num abrigo de menores. Daí, eu e Porã fomos separados… o tempo que fiquei por lá, eu vi outras crianças indígenas, e nunca mais vi meu amigo Porã…
Quando pai parou de contar, eu abracei ele e disse: “essa história é muito triste e eu vou entender se o senhor não quiser lembrar mais”. Aí ele falou: “sim, é triste, mas esquecer uma história triste não diminui a tristeza. Sabe, eu nunca mais voltei lá na aldeia… e sinto um aperto no coração, por saber que a minha história e de Porã é igual às histórias das crianças Guarani Kaiowá, que continuam acontecendo, ainda hoje”.
Daí eu perguntei: “pai, o senhor ainda sente que a Vó Diacuí é sua avó”?
– Teve um tempo que eu não queria lembrar isso… mas Vó Diacuí sempre esteve comigo... e nunca desistiu de ser minha avó... e eu ainda sinto que sou neto dela.
– Então, eu também sou! Quem sabe, eu aprendo a ouvir o som do maracá
da bisa Diacuí?”






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