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  • Foto do escritorMaria da Penha

MULHER NA LUTA CONTRA AS REMOÇÕES

Atualizado: 10 de set. de 2021

Moradia é direito fundamental. Pelo direito à cidade e de morar em sua favela, em sua comunidade


Meu nome é Maria da Penha, sou moradora da Vila Autódromo há 27 anos. No ano de 1992, a comunidade sofreu a primeira tentativa de remoção, mas resistiu e continuou buscando apoio dos movimentos sociais, da Defensoria Pública (Núcleo de Terras – Nuth), das mídias alternativas e universidades. 


Nessa luta, conseguimos dois títulos de posse com concessão de uso por 99 anos e a publicação da Lei Complementar no 74/2005, que dispõe que esse território passaria a ser chamado de Área de Especial Interesse Social (AEIS). Entretanto, no período olímpico, essas conquistas não foram respeitadas pelos nossos governantes, em nome da especulação imobiliária. 


Em 2013, me inseri de fato nos embates contra as remoções forçadas, pois compreendi que tinha direito à moradia e a esse território. Ressalto aqui a importância das mulheres nessa contenda, pois muitas sustentam sozinhas suas casas, famílias, e exercem a dupla função de ser mãe e pai. As que têm um companheiro também são as mais interessadas em preservar o lar, porque sabem quanto é difícil conquistar a casa própria. E as solteiras, que estão iniciando as jornadas, já conhecem os obstáculos que terão que enfrentar para conseguir a  própria moradia.


Falo aqui especialmente pensando nas mulheres da favela, nas que são nascidas e criadas em comunidades e quilombos, pois elas descobrem desde cedo que é preciso lutar pela sobrevivência, para ter um teto para chamar de seu.

É muito triste levar uma vida para construir uma casa e depois vê-la ser destruída — a minha foi demolida no dia 8 de março de 2016, esse foi o “presente” que recebi da Prefeitura no Dia Internacional na Mulher. Mas ainda assim, consegui permanecer na minha comunidade e continuo batalhando para que outras mulheres e famílias não percam o direito fundamental de moradia, para que tenham direito à cidade e a permanecer em sua favela, em sua comunidade.


O Brasil é um país riquíssimo em terra, e é lamentável ver tantas mulheres, homens e crianças nas ruas; é preciso que políticas públicas sejam implementadas a fim de possibilitar que toda mulher tenha uma casa própria, que nossos governantes respeitem os laços afetivos que são construídos nas periferias, pois, ao destruir uma casa, também se destrói uma história, uma trajetória de vida. 


Aproveito a oportunidade para agradecer ao Jornal Abaixo-Assinado por todo o apoio e visibilidade que oferece às comunidades de Jacarepaguá, e dar parabéns pelo seu 16o ano de jornalismo perseverante. 


Agradeço também a todas as mulheres que lutaram ao meu lado no período que mais precisei e as parabenizo pela força e resistência. Viva todas as mulheres!

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