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Mídia & Cultura


Imagem JPA AFRO CULTURAL

Mídia & Cultura

Por Thiago Naziel*

O modelo de vida que o sistema passa para os jovens de hoje é o de que “você é o que você tem” ou, você tenta ser o que você tenta ter. Nessa lógica, o mundo atual e a sociedade dizem que você deve fazer parte do ciclo de consumo para se enquadrar nos padrões estabelecidos por esta mesma sociedade. Parece redundância, e é exatamente essa a ideia deste artigo.

Esta roda gigante que envolve grandes corporações, publicidade, consumismo, desvalorização da educação e da cultura, manutenção do poder, senso comum, racismo velado, oligopólio dos meios de comunicação, inércia dos governantes e no meio disso tudo, a população vivendo os altos e baixos dessa roda gigante segregadora. Pior ainda é a situação dos jovens, estes são os maiores prejudicados, com um sistema educacional ultrapassado, com metodologias de ensino do século XIX, professores do século XX, e alunos do século XXI, não consegue sequer manter os jovens interessados, quem dirá incentivar a leitura que é um hábito essencial para a formação do sujeito, as novas tecnologias e plataformas de comunicação sociais estão tomando cada vez mais espaços, quem controla esse conteúdo das redes? A tecnologia está aí para nos ajudar ou para transformar uma geração inteira em zumbis reféns do smarthphone? Acho que a resposta é, os dois.

Mas existe um, porém, enquanto o jovem abastado ou de classe média alta tem acesso ao ensino de qualidade, e aos cursos que o fazem dominar essas novas tecnologias, o jovem da periferia é hipnotizado pelas criações de quem já há séculos faz a manutenção do poder. Quem tem sobrenome “importante” cria mecanismos para aumentar nossa dependência desse sistema, e quem é pobre parcela em 10 vezes sem juros para não ficar de fora da “modernidade” que nos é massificada a todo o momento pela mídia e as mais diferentes armadilhas criadas pela publicidade para manter a ditadura do consumo que começa nos canais de desenhos infantis, e se tornam apelativas quando destinadas ao público jovem, passando por todos os meios de comunicação, tudo financiado por grandes corporações que também são comandadas por pessoas de sobrenomes tradicionais e fazem a manutenção do poder desde a época do trafico de escravos, aonde nosso ancestrais eram negociados como mercadorias, enquanto isso essas mesmas famílias ganhavam títulos e posses do próprio Estado. Conhece algum jovem oriundo de periferia executivo de multinacional? Quantos? O racismo velado é intrínseco em nossa sociedade, o senso comum diz que todos temos as mesmas oportunidades e que basta querer. Os políticos usam do cinismo ou inércia, e quando existe alguma pressão da nossa morna sociedade, agem com passos de formiga e sem vontade. Com esses ingredientes temos uma juventude de periferia que está no ostracismo e com referencias que muitas vezes não nos representa.

Quem inventou que precisamos ser reféns de bens materiais para sermos felizes? Por que o padrão de beleza é o galã da novela que se passa no Leblon? Por que não somos incentivados a ler, e a todo o momento se fala em rede social? Por que precisamos o tempo todo postar, curtir ou comentar algo? Por que os jornais noticiam tragédias urbanas com ênfase, e não passam uma matéria com críticas construtivas para melhorar nossa sociedade? Por que em todas as plataformas de comunicação das famílias que detém o oligopólio da mídia no Brasil, nunca vemos ou lemos as palavras introdução, valorização ou empoderamento, quando se referem a jovens de comunidade? Por que os governantes não tomam atitudes, cobram, fiscalizam, já que rádio e tv são concessões públicas e recebem benefícios fiscais? Querem nos colocar tapas de cavalo nas vistas e limitar nossa visão a apenas um palmo, arquitetam formas de fazer você crer que só será feliz se tiver tal relógio, tal celular, tal carro, frequentar tal lugar e até mesmo se beber tal cerveja no final de semana.

Mas nem tudo está perdido, existem coletivos que trabalham com ações afirmativas na intenção de quebrar esses paradigmas. Por exemplo, no condomínio Bandeirantes (Merck) tem o Núcleo de Formação de Agentes da Cultura (Nufac), o curso de produção de vídeo (audiovisual) com ênfase em políticas étnico raciais e jornalismo comunitário, o público alvo são jovens de 15 a 29 anos de comunidade, que ainda ganham uma bolsa mensal. Na Cidade de Deus acontece um curso de cinema com os coletivos ‘CDD na Tela’, aonde jovens aprendem gratuitamente as técnicas do maravilhoso mundo da sétima arte, lá também tem um pólo do Nufac com o curso de web designer. Também temos na comunidade Asa Branca cursos gratuitos de fotografia, rádio comunitária, circo e teatro. Isso só em Jacarepaguá, fora os outros diversos cursos que preparam os jovens da periferia para as profissões do futuro e desenvolvem a economia criativa, como o curso de assistente gráfico na mangueira (gratuito) e produção cultural no Borel (gratuito). Existem ainda opções de bibliotecas, museus e teatros públicos, com programação variada e de baixo custo, quando não de graça. Existe ainda a lei municipal 5429 de 2012, lei do artista de rua, que permite a qualquer um se apresentar ou mostrar sua arte em qualquer espaço publico ao ar livre sem nenhum impedimento. Enfim, informe-se melhor, saia da mesmice e busque fontes alternativas, não espere cair do céu. Tem muito jovem que está preocupado em replicar os xingamentos a presidente, sem nem saber exatamente o verdadeiro motivo da situação econômica atual, será que a culpa é mesmo da Dilma? Não quero defender político, nem votei nela, mas será que ela é a culpada de você ficar parado aguardando algo acontecer? Ou seu caminho poderia ser diferente se você redirecionasse o foco? Quem nasce em berço de ouro corre atrás… Como diria Mano Brown “Nós pretos precisamos ser 10 vezes melhor, por tudo” e você jovem negro de periferia, de comunidade, classe média baixa, o que está fazendo pra mudar essa realidade? Mudar a sua realidade? Quem será você daqui a cinco, dez anos? Qual será seu legado? 117 curtidas e 48 comentários no Facebook? Ou vai pavimentar seu caminho pra escrever sua própria história, sendo parte integrante dessa mudança de mentalidade?       “Pilotem suas próprias cabeças”

*Participa do Coletivo ‘Jacarepaguá Afro Cultural’.

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