LIVRO “ATINGIDAS” – A LUTA DAS MULHERES
LIVRO “ATINGIDAS” REÚNE HISTÓRIAS DE MULHERES À FRENTE DAS RESISTÊNCIAS POPULARES NO RIO OLÍMPICO.
Entre elas está Rita Barbosa que conta os impactos das obras olímpicas na agricultura urbana.
Rita Maria Barbosa de Souza, 59, agricultora e moradora da Colônia teve sua horta destruída pela Prefeitura. Quase 30 tipos de árvores frutíferas e de ervas medicinais eram cultivados nos seus canteiros, cuja produção foi estimada em R$ 83 mil pelo laudo que consta no processo movido pela Defensoria Publica. “Eles falaram que tinham comprado uma casa, que iam fazer obra nela e, quando ela tivesse condições de moradia, eles iriam me tirar de lá [da horta]. Eu assinei o papel. Eu saí da Prefeitura de noite, cheguei aqui às 23h, fiz janta, tomei banho e fui dormir. Quando foi de manhã, 7h, acordei com o barulho da máquina. A máquina entrou dentro da horta, quebrou tudo, não deu tempo de arrumar móveis… Quebraram guarda-roupa… Derrubaram com tudo”, relembra.
A agricultora chegou ao terreno por meio de um projeto chamado “Guardiões do Rio”. Ele previa a existência de uma horta em cada comunidade onde houvesse um responsável pela limpeza dos rios. Vieram às obras do PAC e os coqueiros, galinhas e hortaliças foram substituídos pelo prédio dos funcionários da Comlurb. Hoje, ela mora na casa doada pela Prefeitura: uma tapera cujo telhado é sustentado por uma ripa de madeira comida pelo cupim. A Defesa Civil condenou a construção por risco de desabamento. A promessa de reforma nunca foi cumprida.
O pouco espaço para a horta, não desanimou Rita. Ela esconde sua tristeza na venda de hortaliças, pimentas e xaropes que produz junto com uma vizinha. Ela se transformou em uma das líderes da Feira da Freguesia, espaço de resistência e insurgência da agricultura urbana que brota, mesmo cercada pelo asfalto. “Eles chegam, acabam com a vida das pessoas, não querem saber se você tem do que viver. […] Que cidade é essa? A cidade é feita para o povo?” questiona.
Extrato do texto: MENDES, Thiago. “Tristezas e doçuras de Rita Barbosa entre canteiros de hortaliças e obras.” In: Atingidas: histórias de vida de mulheres na cidade olímpica. Rio de Janeiro: Instituto PACS, 2016.
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