DEBATE/ENTREVISTA – A EDUCAÇÃO QUE QUEREMOS
Professora Célia Frazão Soares Linhares
Por uma nova concepção de Educação: “Os saberes não podem se distanciar da vida e das contradições da realidade”
O professor Carlos Motta, da equipe do Jornal Abaixo-Assinado de Jacarepaguá, fez uma entrevista especial com a professora Célia Linhares, da UFF/UFRRJ, para debater a Educação Brasileira nos dias atuais.
Célia Frazão Soares Linhares é professora do Programa de Mestrado e Doutorado em Educação da UFF e do Programa de Mestrado e Doutorado em Educação da UFRRJ. Participa como conselheira do Conselho Interdisciplinar de Pesquisa e Editoração da Fundação Biblioteca Nacional. Como bolsista de produtividade do CNPq, vem pesquisando os movimentos instituintes, em uma conjunção entre políticas e artes na Educação, que potencializam as reinvenções das instituições de aprendizagens e ensinagens. Nessa direção, vem orientando pesquisadores em seu estágio de pós-doutorado e tem prestado consultorias a sistemas públicos de Educação, bem como a projetos gestados pela UNESCO-Remec. É autora de livros e artigos, com publicações na Argentina, Colômbia, Cuba, Portugal e Itália. E tem ativa participação em congressos.
Carlos Motta é professor de Geografia da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro e diretor da Rede Estadual de Ensino do Rio do Janeiro, onde desenvolve uma integração entre os Movimentos Sociais e a Educação. Mestrando do PPGEDUC/UFRRJ. Participa do Jornal Abaixo-Assinado de Jacarepaguá (JAAJ).
Mais do que uma Entrevista Especial é um debate a favor da Educação Pública no Brasil
Carlos Motta: Como a universidade pode se aproximar mais da Escola?
Célia Linhares: Entendendo a Escola que existe. A Escola que, apesar de tudo, realiza alguma coisa nova. Grande parte por conta de professores que resistem a um processo de perda de autonomia. São várias experiências instituintes em que há um esforço para a transformação. Os saberes não podem se distanciar da vida e das contradições da realidade, em nome de uma tecnociência que acaba por obter um comando excessivo nas tarefas de elaboração das ideias.
Carlos Motta: Os movimentos sociais podem contribuir com a Educação Escolar?
Célia Linhares: Através da fusão de novos saberes. Com outras concepções de Educação, em que a vontade e o sentimento prevaleçam como expressão da vida. Garantindo então uma relação com as multiplicidades culturais de um povo.
Carlos Motta: Seria uma espécie de resgate do saber popular?
Célia Linhares: Uma capacidade criadora, que provém do instituinte. Não devemos cimentar a realidade. Identificando o que somos e o que podemos fazer.
Carlos Motta: E como se percebe o instituinte?
Célia Linhares: A corrida pelo novo, dentro da lógica do consumismo e da produtividade do industrialismo, não permite absolver o que a vida nos apresenta no cotidiano, através do imaginário, das dores e alegrias da vida. Só percebe-se o instituinte com serenidade e emoção. Com uma memória recriada e aberta ao acontecimento.
Carlos Motta: Mas a sociedade capitalista e seu sistema de ensino não aprovam este ritmo harmonioso, saudável e sentimental de transmissão de saberes. Para o modo de produção dominante, interessa a exploração extensiva e intensiva do trabalho. Como então subverter
Célia Linhares: esta lógica que limita o pensar e o agir? Como dito, identificar e considerar o novo instituinte é fundamental. Trabalhando as confluências entre as urgências vitais e a educação. Na contramão das tendências desmobilizadoras. Devemos também aprofundar o radicalismo ideológico, no sentido de buscar na raiz da questão os conceitos que desvendam as formas de controle social. Considerando a história dentro da perspectiva das possibilidades, pois negar o passado é negar o futuro. Devemos então: se arrancar de nós mesmo.
Carlos Motta: Análises ortodoxas contribuem para a consciência coletiva?
Célia Linhares: Análises de conjuntura rígidas escondem originalidades em ebulição que transformam o cotidiano nas brechas da estrutura contraditória do capitalismo.
Carlos Motta: Por conta de pressões das agências internacionais, grande parte das redes de ensino está adotando avaliações externas, nas quais os alunos são avaliados após uma transmissão reprodutiva dos conteúdos, em outras palavras, uma espécie de adestramento educacional. Como isso se reflete na construção de cidadãos?
Célia Linhares: Estamos em um tempo de recriação, de reinvenção, de construção de possibilidades e de insurgências de acontecimentos e singularizações. Não de controle produtivista alienado, contrário à emancipação e à autonomia dos sujeitos.
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