- Jornal Abaixo Assinado
Corredor Cultural Obassylene
Cidade de Deus tem o Corredor Cultural Obassylene
Regina Prado*
Em 2005, Sidilene Vieira, integrante do grupo teatral Raiz da Liberdade, foi selecionada como empreendedora da Incubadora Afro-Brasileira. Com a seleção, surgiu a idealização do Corredor Cultural Obassy. A princípio, a intenção era transformar o grupo em uma empresa gestora de cultura.
Em 2006, com o falecimento de dona Obassy, idealizadora do grupo teatral e articuladora sociocultural da comunidade, o projeto foi repensado. Primeiramente, surgiu a ideia de mudança da rua Salatiel para Corredor Cultural Obassy. Contudo, por falta de consenso entre os membros do grupo, Sidilene afastou-se de forma pacífica, engavetando lamentavelmente sua idealização.
Dez anos depois, em 2016, Cilene Regina, assistente social, formada pela PUC, militante comunitária — assim como Sidilene, Dayse, Lenise e Cristiane — e filha de dona Obassy, falece, aos 50 anos, causando grande comoção no grupo e na Cidade de Deus, despertando assim o desejo de ressuscitar o projeto.
A perda de Cilene amadureceu o grupo, que hoje está empenhado em gerar esse filho tão almejado chamado Corredor Cultural Obassylene, que pretende criar um oásis como contraponto em meio ao caos que se transformou a amada Cidade de Deus, palco constante de violências, destruindo a vida de inocentes por meio de “balas perdidas”.
O Corredor Cultural Obassylene possibilitará aos moradores um espaço de atividades socioculturais, recreativas, instrutivas e inclusivas, sem distinção de faixa etária. Visibilidade e resgate da dignidade perdida com o descaso social são metas primordiais dessa iniciativa, provando que a cultura é ímpar.
O Corredor é uma prova contundente de que não importa se as pessoas só encontram quem lhes empurre para o abismo, é nesse momento que as forças se multiplicam tirando-as do anonimato e levando-as para o pódio, porque com garra e determinação conquistamos vitórias.
Dona Obassy e Cilene são mais que merecedoras dessa homenagem, ao contrário de muita gente que usa o nome da comunidade, intitulando-se líderes apenas para tirarem proveitos, desconhecendo vergonhosamente a própria história local etc. Elas eram de fato grandes lutadoras pelas melhorias comunitárias, sem distinção de qualquer predicado, militantes de verdade, e a ausência delas deixou a responsabilidade social de LUTO ETERNO.
Dona Obassy e Cilene mesmo em outro plano terão o prazer de ver o Corredor Cultural Obassylene como o Point Cultural número um da Cidade de Deus!
*Militante e moradora da Cidade de Deus
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