- Jornal Abaixo Assinado
Cordel rompendo barreiras
Severino com Otávia Vital, em visita a sua casa, em Nova Sepetiba, RJ
Por Poeta Severino Honorato*
É preciso ser forte para ocupar o lugar devido no seio da sociedade brasileira. E o Cordel tem tutano para provar com sobras, sem excessos, que perseverar é preciso. É isso que posso afirmar como observador e beneficiário da qualidade da Literatura de Cordel, cuja técnica secular vem desde Leandro Gomes de Barros.
Nos meses finais de 2018, precisamente em setembro, o Cordel, esta poesia com identidade brasileira, recebeu a honrosa titulação de “Cultura Patrimonial Imaterial do Brasil”, outorgada pelo Conselho do Iphan, a partir de um dossiê longo, extenso, profundo e fecundo, diante de uma plateia atenta e curiosa a respeito das palavras a serem proferidas pelo responsável sobre o veredito. Claro que não havia objeção quanto ao título. Porém haveríamos de nos deter às conclusões do orador.
A exibição de trechos do documentário produzido ao longo das pesquisas nas regiões do Brasil não nos deixou dúvida da sua eficiência em provar quão significante é para uma nação reconhecer, respeitar, preservar, incentivando sua fruição, difusão, ampliando assim seus usos.
Por mais que estejamos acostumados ao formato hiperbólico dos poetas, sobre si e sobre esta poesia, é isso, em grande parte, que de fato a faz especial e diferente. Vejam nos versos a seguir.
Marco do Mundo
O marco zero do mundo Alcançou meu coração Fez dos degraus da história A tábua da salvação Usou a escada da vida Pra deter a imperfeição.
Meu verso é arquitetura Da mais bela engenharia Coluna, pilar e viga Cuja estrutura avalia Serve de morada ao ser Com o nome de poesia.
Seu aço é ultramarca O melhor já existente Minério mais precioso Deus sabe e o povo sente Jamais gerou um escombro Ou causou um acidente.
Desde a entrada à saída Seu ambiente é sadio Pintado com vivas cores Feito água em desafio Numa corredeira livre Qual um caudaloso rio.
E vivamos 2019!
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