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Camorim: História e natureza convivem no bairro que mais cresce no Rio
Igreja de São Gonçalo de Amarante
YAKARÉ UPÁ GUÁ – HISTÓRIAS DE JACAREPAGUÁ –
*Texto do historiador Val Costa –
Segundo o Censo de 2010, o Camorim foi o bairro carioca que mais cresceu nos últimos dez anos, totalizando atualmente 1.970 habitantes. Cerca de 63% de sua área é formada por Mata Atlântica, toda ela pertencente ao Parque Estadual da Pedra Branca. Dentro da área do Parque encontra-se o Açude do Camorim, com 210.000 m2. Projetado pelo Engenheiro Sampaio Correia, a sua profundidade chega, no seu ponto máximo, a 18 metros.
AÇUDE DO CAMORIM
Existem duas versões para o nome do bairro, ambas de origem Tupi. A primeira seria a junção de “kamuri” (robalo) com “im” (diminutivo), formando algo como “robalozinho”. A segunda juntaria, “ca” (mata) e “mury” (moscas ou mosquitos), “mata com mosquitos”. Os primeiros habitantes do bairro foram os índios Tamoios, que construíram uma grande taba próxima da Lagoa do Camorim. Seu nome era “guará-guaçu-mirim”, que significa “filhote de lobo grande”. Em 1594, Gonçalo Correia de Sá funda o Engenho do Camorim, transformando parte da planície costeira de Jacarepaguá em um imenso canavial. Gonçalo doou o Engenho do Camorim para o genro, o espanhol Luis de Céspedes y Xeria, como dote de casamento dele com a sua filha Vitória de Sá. O casal foi viver em Assunção, deixando Gonçalo como administrador das terras até a sua morte, em 1633. Após o falecimento do pai, D. Vitória retornou ao Rio de Janeiro e passou a tocar o engenho até 1667, ano em que morreu. Sem ter herdeiros, D. Vitória deixou o engenho para o Mosteiro de São Bento. Os beneditinos dividiram as terras em três propriedades: Fazenda do Camorim, Fazendo da Vargem Grande e Fazenda da Vargem Pequena. Além do açúcar, os monges, que administraram essas terras por quase 200 anos, também produziram mandioca, milho, feijão e aguardente. Nesse bairro existe um dos raros exemplares da arquitetura religiosa maneirista no Rio de Janeiro: a Igreja de São Gonçalo de Amarante. Ela foi construída em 1625 por Gonçalo Correia de Sá. Esse templo possui apenas uma porta de entrada, bastante rústica, dois sinos de bronze e fachada com as cores azul e branca. Possui também pequenas aberturas em suas espessas paredes, chamadas flecheiras, que tinham o objetivo de evitar possíveis ataques dos povos indígenas. Foi tombado pelo INEPAC, em 2 de dezembro de 1965. A Comunidade do Alto Camorim, existente há mais de cem anos no bairro, pode ser reconhecida como a primeira remanescente de um antigo quilombo da região, com a emissão dos títulos de propriedade para os seus moradores. A comunidade é composta por duzentas casas e tem aproximadamente mil pessoas.
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