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Cais do Valongo: vestígio da escravidão
Cais do Valongo – Praça 15
Cais do Valongo: vestígio da escravidão no Rio de Janeiro
Professora e Pesquisador Val Costa*
A escravização de africanos no continente americano foi um dos mais trágicos episódios da história da humanidade. O Rio de Janeiro teve um papel de destaque no chamado tráfico atlântico, pois cerca de um milhão de cativos entraram no Brasil pela nossa cidade. Segundo o censo de 1849, dos 266,5 mil habitantes do Rio, 110,6 mil eram indivíduos escravizados, ou seja, 41,5% da população total.
Inicialmente os povos escravizados desembarcavam na Praça XV, entretanto, no final do século XVIII, o Marquês do Lavradio transferiu o atracadouro dos navios negreiros para o Cais do Valongo, onde hoje é a atual Avenida Barão de Tefé, na Praça do Comércio. Esse cais de pedra foi usado para desembarque dos cativos no Rio de Janeiro entre 1774 e 1831.
Obelisco construído no Cais do Valongo por ocasião da chegada da Imperatriz Teresa Cristina
No mesmo lugar, em 1843, foi construído um outro cais, denominado Cais da Imperatriz, pois recebeu a embarcação que trouxe ao nosso país a esposa do imperador D. Pedro II, Teresa Cristina de Bourbon. O Cais do Valongo foi redescoberto somente em 2011, por ocasião das obras do Porto Maravilha.
Essa região, conhecida antigamente como “Pequena África”, ainda engloba uma série de vestígios do período escravista: os armazéns nos quais os cativos eram vendidos, o Lazareto onde eram tratados os enfermos e o Cemitério dos Pretos Novos.
Placa sobre Sítio Arqueológico do Cais do Valongo
Muitos desses africanos vieram trabalhar nos engenhos de açúcar da então Freguesia de Nossa Senhora do Loreto e Santo Antônio de Jacarepaguá. No recenseamento de 1838, essa freguesia totalizava 7.302 habitantes, dos quais 4.491 eram indivíduos escravizados.
Em novembro de 2011, através do Decreto 34.803, foi criado o Circuito Histórico e Arqueológico de Celebração da Herança Africana. Essa iniciativa destina-se a preservar os vestígios materiais revelados pelas pesquisas arqueológicas executadas na região Portuária do Rio de Janeiro.
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