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Brumadinho: um mar de lama

Rio de lama em Brumadinho


Minas não tem mar,

Mas fizeram dois mares de lama nas minas.

Cadê minha casa que estava aqui?

Cadê meu boi, meu cavalo?

Cadê meu cachorro?

Cadê meu pé de mamão?

Meu carrinho de mão?

Cadê meu pé de limão?

Cadê meus livros?

Cadê meu arroz, feijão?

Cadê meu colchão?

Cadê meu pai, minha mãe, meus irmãos?

A lama levou….

A lama levou minha vida

Meus sonhos,

Meu porto seguro,

Meu chão.

Não foi a lama não,

Foi o homem que fez a lama, que jogou Mariana e Brumadinho no chão.

Tingiu de marrom as águas do meu Rio Doce,

Coloriu de terra meu Paraopeba,

Vai tingir meu Velho Chico.

Vai calar a voz dos passarinhos,

Matar os peixes,

Que será de mim?

Quem devolverá tudo que levaram de mim?

(Autor Desconhecido)

E tudo virou lama...

Texto de Carla Scott

Este poema transmite a dor e a angustia de quem perdeu tudo nesta tragédia. O verde transformou-se em lama em poucos minutos. Se antes da tragédia Brumadinho era conhecido pelo verde das matas e pelas casinhas, agora o cenário aparece tomado pelo marrom da lama de rejeitos da mineradora Vale.

A onda da lama que vazou da barragem 1 da mina Córrego do Feijão, sem alarme, na sexta-feira, 25 de janeiro de 2019, levou menos de meia hora para chegar ao último ponto. Segundo os cálculos, a velocidade da lama foi de quase 80 quilômetros por hora ao deixar a barragem e de cerca de 20 ao chegar ao bairro. Foram 11,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração que engoliu tudo pela frente.

Ganância, irresponsabilidade com o meio ambiente, com a fauna e flora, com os povos indígenas da tribo Pataxó que vivem e sobrevivem do Rio Paraopeba, Brumadinho ficará para sempre marcado por esta tragédia de grandes proporções. Além do rompimento da barragem de Mariana, o rompimento da barragem em Brumadinho já pode ser considerado uma das maiores tragédias ambientais do Brasil e do mundo.

“É a Mãe Natureza vomitando o que o homem branco tá fazendo. Ficamos tristes. Os peixes ali agonizando… é ruim de ver. Uma coisa que é de sustento não só dos Pataxó, mas de várias famílias, se acabando tudo”, relata o cacique da tribo. Além da pesca e da água para o dia a dia, o rio mantinha as roças da tribo: mandioca, milho, bananeiras, fruteiras, hortaliças e pequenas criações.

A barragem que se rompeu estava inativa e não recebia rejeitos há mais de três anos. Construída em 1976, ela tinha capacidade de armazenamento de 12,7 milhões de metros cúbicos. É na cidade de Brumadinho que fica também o conhecido Instituto Inhotim, considerado o maior museu a céu aberto do mundo.  Apesar de o museu não ter sido atingido pela lama, há relatos de destruição de pousadas comumente procuradas por turistas que vão à cidade para conhecê-lo.

Até o último dia 13/02 foram confirmadas 166 mortes e 155 pessoas permanecem desaparecidas. Segundo a ONG WWF aproximadamente 125 hectares de florestas foram perdidos, o equivalente a mais de um milhão de metros quadrados ou 125 campos de futebol.

No Rio de Janeiro, segundo relatórios de órgãos federais, há pelo menos sete barragens, que armazenam água ou restos de mineração, com alto dano potencial associado (DPA). Ou seja, podem causar mortes e grandes impactos sociais, econômicos e ambientais em caso de rompimento ou vazamento. As más condições de conservação fazem com que três sejam avaliadas como de alto risco (CRI) para acidentes.

Fonte: Jornal Extra – 03/02/2019

Sustentabilidade está em todo lugar, mas o foco está nas empresas, pois são elas as maiores responsáveis pelas alterações no meio ambiente e por consequência, pelo desequilíbrio ambiental. Como resultado de ações errôneas, temos enchentes, desbarrancamentos, o tão debatido aquecimento global, chuvas ácidas, diversas contaminações, entre outras muitas catástrofes.

A sustentabilidade é formada por um tripé, logicamente seguido de três conceitos básicos, onde cada um desses aspectos deverá estar estritamente ligado e de forma bem definida: o Ambiental, o Social e o Econômico. O Meio Ambiente equilibrado, mais do que um conceito é Lei, mantê-lo conservado é obrigação de todos, inclusive das empresas. (Fonte: PortaldaEducação).

Onde está a fiscalização dos Órgãos federais e estaduais, dos Conselhos, das Agências?  Não há um único culpado. A Vale, os Órgãos Regulatórios que falharam, a direção do complexo de Paraopeba que não acionou as sirenes, as empresas de auditoria e consultoria que emitiram laudos atestando que o local estava estável, enfim, há certamente vários envolvidos.

E assim seguimos sem respostas para mais um crime grave contra o meio ambiente. Choram os familiares, choram as matas, choram os rios, e todos que daquelas terras dependem para o seu próprio sustento.

Mapa de Barragens no Estado do Rio de Janeiro


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