- Jornal Abaixo Assinado
Breve histórico dos temporais e alagamentos na cidade do Rio de Janeiro
Com os recentes temporais na cidade resolvemos republicar um artigo do professor Val Costa que apresenta um singelo histórico dos temporais e alagamentos na cidade do Rio de Janeiro.
Yakaré Upa Gua – HISTÓRIAS DE JACAREPAGUÁ
*Texto e fotos do historiador VAL COSTA
A madrugada do dia 15 de fevereiro foi trágica para muitos habitantes da nossa cidade. Segundo o Alerta Rio, choveu 123,2mm em apenas uma hora. Esse temporal deixou quatro mortos, centenas de desalojados, interditou vias importantes da cidade, causou vários alagamentos, derrubou um trecho da ciclovia Tim Maia, arrancou árvores e gerou um acúmulo de lama e lixo em várias ruas. A região da Baixada de Jacarepaguá foi uma das mais atingidas. Em Jacarepaguá choveu quase 150% da média de chuva esperada para todo o mês de fevereiro; na Barra da Tijuca, em apenas uma hora, a estação do Alerta Rio registrou 119% da chuva esperada para o mesmo mês. Infelizmente acontecimentos como esse são relativamente comuns em nosso estado. O Atlas Brasileiro de Desastres Naturais (ABDN), registrou, entre 1991 e 2012, 251 chuvas fortes no estado do Rio de Janeiro, afetando cerca de 1,4 milhão de pessoas. Se pesquisarmos em matérias antigas de jornais, podemos comprovar que enchentes e alagamentos fazem parte da rotina do carioca, prejudicando, principalmente, a população mais pobre do Rio de Janeiro. A maior tragédia climática da cidade exemplifica muito bem essa afirmação. Ela aconteceu em 10 de janeiro de 1966, quando choveu 250 mm em algumas horas. Segundo os periódicos que circulavam nessa época, foram 250 mortos, mais de mil feridos e 50 mil desabrigados. Os mais afetados foram os habitantes dos morros do então Estado da Guanabara. Eles perderam as suas casas e foram alocados no Complexo do Maracanã e, depois, levados para a Cidade de Deus.
Em 1988, o mês de fevereiro registrou dois temporais fortíssimos em nossa cidade. Um no dia 12 e outro no dia 19. Somando os dois, o saldo foi trágico: 295 mortos, 774 feridos e 18.860 desabrigados. Assim como em 1966, os moradores dos morros foram extremamente prejudicados, principalmente os do Morro Dona Marta, onde ocorreram vários deslizamentos, com 30 casas destruídas. Em 1996, a região da Baixada de Jacarepaguá foi arrasada em decorrência de um forte temporal. Dados oficiais relataram que 67 pessoas morreram soterradas, afogadas ou eletrocutadas e mais de 2 mil ficaram desabrigadas. Essa tragédia fez com que a prefeitura criasse o Alerta Rio, um sistema que serve para monitorar e prever as enchentes.
Os dias 5, 6 e 7 de abril de 2010 também registraram fortes temporais. Foram 288 milímetros de precipitações. O rio Maracanã e a Lagoa Rodrigo de Freitas transbordaram e vários deslizamentos aconteceram em toda a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Nos últimos 10 anos, foram feitas algumas intervenções com o intuito de minimizar os impactos dessas fortes chuvas. Os piscinões da Praça da Bandeira e a macro-drenagem da Bacia Hidrográfica de Jacarepaguá são exemplos dessas tentativas. Pode-se concluir que, mesmo com essas iniciativas, o poder público age apenas quando acontece uma catástrofe e não se preocupa em elaborar um plano integrado para o controle de enchentes que englobe todos os municípios do estado do Rio de Janeiro.
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