A história da luta pela urbanização de favelas em Jacarepaguá
Jornal Última Hora, 09.11.1983
A luta pela urbanização de favelas em Jacarepaguá na década de 1980
*Texto de Renato Dória
A luta pela urbanização de favelas em Jacarepaguá é antiga e persiste até hoje. A Vila Autódromo, por exemplo, defende a urbanização de favelas como alternativa à política de remoção, pelo menos, desde o primeiro governo César Maia, no início da década de 1990. Um exemplo recente é o de Rio das Pedras, ameaçada de remoção em novembro de 2017 e cujo protagonismo da resistência está numa comissão de moradores. Tendo inúmeras mulheres a frente desta luta, em março deste ano a comissão de moradores ficou indignada com a declaração do Prefeito Crivella, que renovou o interesse pela remoção durante uma visita à favela.
Em Jacarepaguá, uma das primeiras favelas a encabeçar a luta pela urbanização foi Rio das Pedras, no início da década de 1980, durante o governo estadual de Leonel Brizola. Desde então, a urbanização nunca mais saiu da pauta de lutas das favelas da região. No mês de novembro do ano de 1983, o jornal Última Hora noticiava o seguinte texto:
“…moradores das vinte favelas de Jacarepaguá vão ao Palácio Guanabara pedir ao Governador do Estado a revisão do Plano de Saneamento para a área de Jacarepaguá e Barra da Tijuca.”
Desde fins da década de 1970 o número de favelas organizadas em associação de moradores aumentou significativamente na cidade do Rio de Janeiro. Nessa época, foram três as demandas básicas que mobilizaram os moradores em torno de associações: luta contra remoção, regularização fundiária e urbanização (saneamento básico). Na zona sul, o ritmo acelerado de expansão imobiliária e dos serviços urbanos durante as décadas de 70 e 80 teve como resultado a remoção de várias favelas.
No mesmo período, em regiões periféricas como Jacarepaguá, antiga área rural da cidade, com áreas recém-loteadas e em ritmo lento de ocupação urbana, a luta pela urbanização e saneamento básico foram as demandas principais das associações de moradores. O motivo: na primeira etapa do Plano de Saneamento, elaborado pela Cedae e a Secretaria de Obras do Estado, áreas povoadas como as favelas da região não seriam contempladas, ao passo que imensas áreas vazias da Barra da Tijuca e os recém-construídos condomínios Tijucamar e Jardim Oceânico, já seriam contemplados pelas obras!
Enquanto lutavam pelo tão desejado saneamento, os moradores das favelas de Jacarepaguá durante a década de 1980 conviviam diariamente com enchentes, valas negras, lama e epidemias de infecções atingindo as crianças menores. A situação atual da Vila Autódromo lembra um caso ocorrido durante a década de 2000, o da favela Canal do Cortado, também situada na Barra da Tijuca, onde quase toda a comunidade foi removida.
*Pesquisador do IHBAJA (INSTITUTO HISTÓRICO DA BAIXADA DE JACAREPAGUÁ)
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