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A História da Cidade de Deus
Por Val Costa
A Cidade de Deus ficou mundialmente conhecida pelo filme de mesmo nome, produzido em 2002 e inspirado em um livro escrito por Paulo Lins. A película mostra diversos personagens e eventos que vão sendo entrelaçados no decorrer da trama, que tem como pano de fundo o bairro carioca. O filme abordou temas extremamente polêmicos, como o uso de drogas e a violência em uma área de vulnerabilidade social. Entretanto, a história da popularmente conhecida CDD vai além do que mostrou as telas dos cinemas.
Inicialmente, é importante entendermos o contexto histórico e econômico do período em que o bairro foi planejado, ou seja, da década de 1960. O então Estado da Guanabara vinha sofrendo um acentuado crescimento populacional, ocasionado, sobretudo, pela migração de famílias nordestinas que buscavam melhores oportunidades de trabalho. Em 1962, com a criação da Companhia de Habitação Popular do Estado da Guanabara (COHAB GB), iniciou-se um intenso programa de construção de casas populares. Essas unidades habitacionais deveriam receber famílias retiradas de algumas comunidades, principalmente daquelas localizadas no entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas.
A origem do nome do local possui duas versões. A primeira foi uma sugestão de Dom Hélder Câmara para o então governador da Guanabara, Carlos Lacerda. Alguns logradouros receberiam nomes religiosos, como a Praça da Bíblia e as ruas Moisés e Salomão. A segunda teria sido um pedido da então Secretária de Estado de Serviços Sociais, professora Sandra Cavalcante.
As obras da Cidade de Deus tiveram início em fevereiro de 1965. O projeto urbanístico foi implantado sobre um terreno de 70,14 ha, prevendo um total de 3.053 habitações e todos os serviços e equipamentos urbanos necessários para o desenvolvimento da localidade. Entretanto, não foi isso o que realmente aconteceu. Em janeiro de 1966, o Rio sofreu uma das piores enchentes de sua história. Cinco dias de temporal deixaram mais de 200 mortos e 50 mil desabrigados. Muitos desses desabrigados eram moradores de favelas da Zona Sul, como Catacumba, Parque Proletário da Gávea e Praia do Pinto. O Poder Público retirou essas pessoas de uma área muito valorizada e levou-as para as primeiras 1.200 casas levantadas de forma parcial na Cidade de Deus. Construíram-se vários banheiros coletivos e vagões de ocupação transitória, denominados de Triagens que, em março de 1966, em condições precaríssimas, permitiram iniciar a transferência das famílias flageladas para aquelas moradias inacabadas.
Atualmente, a Cidade de Deus é um bairro e também uma Região Administrativa da Cidade do Rio de Janeiro. Possui 36.515 (2010) habitantes e 12.285 domicílios.
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