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A história da Associação Rural de Jacarepaguá

IHBAJA – INSTITUTO HISTÓRICO DE JACAREPAGUÁ

A Associação Rural de Jacarepaguá

*Por Leonardo Soares dos Santos

Entre as poucas informações que temos sobre a antiga Associação Rural de Jacarepaguá, é bastante emblemático que a mais detalhada seja oriunda de relatório produzido pelo Dops da Guanabara, em 2 de dezembro de 1963. A organização de trabalhadores ainda era caso de polícia na década de 1960. Por ele, ficamos sabendo que a Associação se localizava na estrada dos Bandeirantes, no 5.045, a 100 metros adiante do marco Km 5. O agente da polícia política nota ainda que “suas instalações são toscas. Constam de pequena sala e carteiras e bancos tipo escolar. Algumas gravuras nas paredes com motivos e trajes do campo”. A descrição do local é bastante minuciosa, citando, inclusive, que lá existia também “um quadro-negro em que estava escrita a palavra ‘manina’ e gravuras relativas ao Dia das Mães”. A sede da Associação parecia ser precária não apenas em mobiliário, como ainda em termos de acervo de livros: “num armário encontra-se um número da revista A Lavoura, papéis não identificados e alguns talões de blocos de recibo amarrados e sem uso”.

Certos detalhes do relato sugerem que as observações do agente não foram realizadas numa única visita à sede. É bem provável que ele participasse de várias reuniões. É o que se deduz quando se lê sobre a rotina de funcionamento da sede: “A chave da sede é guardada na residência do filho do tesoureiro, localizada nos fundos do terreno. Note-se que esse indivíduo é desconfiado e não responde a perguntas. Tem pequeno defeito nos quadris. […] Das reuniões participam constantemente políticos e, no show de 24, o ministro do Trabalho enviou representantes.” Além das informações sobre o dia a dia da Associação, o relatório concede grande papel à figura do tesoureiro da entidade, o senhor Antônio Ferreira Caseiro. É ele quem “conhece todo o histórico imobiliário do local, descrevendo tudo com muita facilidade”.

Mas o que mais chama a atenção do agente é a grande capacidade de o tesoureiro Antônio Caseiro efetuar uma espécie de trabalho de conscientização política dos posseiros que recorriam à entidade. Lembra ele que Caseiro devia “possuir biblioteca”, e que lia “tudo sobre o problema de terras e colonos”.

Tal capacidade se expressava na própria organização da estrutura física da sede.  Vários políticos costumavam comparecer à Associação. O próprio tesoureiro era descrito como amigo influente de políticos, como os deputados pela Guanabara Mourão Filho, Roland Corbusier, Hercules Correia e Oswaldo Pacheco. Essa rede de amizades provavelmente muito tinha a ver com o fato de ele ser “cabo eleitoral desde muitos anos, existindo no terreno de sua residência uma placa eleitoral do Dr. João Machado, [do partido] MRT”.

A formação de uma rede de apoiadores não visava apenas às autoridades políticas. Para a reunião do dia 8 de dezembro de 1963, haviam sido “fretados dois ônibus para transporte grátis dos participantes”, a esmagadora maioria de pequenos lavradores. No dia primeiro daquele mês, o “ônibus, no de ordem 49.513, da Viação Taquara S.A. conduziu associados para uma reunião em Santíssimo”.

Para infelicidade de Caseiro, os agentes não apenas conheciam muito de sua vida e de sua atuação sindical e política. Na visão deles, o luso-brasileiro era subversivo demais para os padrões políticos da região. Tanto assim que mal a ditadura militar havia sido desencadeada, com o Golpe de 1964, o Dops fora ao encalço de Antonio Caseiro, prendendo-o e torturando-o, certamente pelo programa social que ele tinha o costume de discutir com tanta vibração.

*Pesquisador do IHBAJA

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