A direita que não teme dizer seu nome
*Por Miguel Pinho
Fonte: Facebook Humans of Protesto
Em 2012, o professor de filosofia da USP Vladimir Safatle lançou um livro, chamado A Esquerda Que Não Teme Dizer Seu Nome, falando sobre o que seria ser de esquerda, a pertinência histórica de suas ideias e não titubear em levantar suas bandeiras. Desde o período da redemocratização a direita no Brasil, não tinha se assumido de fato enquanto tal, sempre se escondendo em partidos com social, democrata, liberal e progressista em seus nomes. Apesar dos eufemismos, manteve-se uma política de voltada para a defesa dos privilégios dos ricos, privatista e antinacional. Os partidários da direita evitavam essa alcunha, pois, muitos achavam um termo associado ao elitismo e a ditadura militar. Mas em 2015, parece que não temiam mais dizer seu nome e saíram do armário nos atos anti-Dilma.
O Brasil sempre foi um país muito conservador, mas algumas questões criavam algum tipo de tabu ao serem proferidas em público e imagina então serem ditas com orgulho. Parece que o racismo, machismo e homofobia entraram na moda. O golpe que derrubou Dilma acabou de abrir as portas do inferno. Os viúvos e viúvas da ditadura agora falam com orgulho de intervenção militar constitucional (coisa que não existe em nossa constituição), defende-se censura de obras de arte em nome da família e dos bons costumes, luta-se contra uma ameaça comunista inexistente, professa-se ódio contra as classes populares e movimentos sociais a plenos pulmões e tudo isso com apoio velado ou explícito dos que estão no poder. A direita reacionária agora bate no peito e grita “proprietários do mundo, uni-vos”. Se o poeta e dramaturgo alemão Bertold Brecht foi certeiro ao dizer que a cadela do fascismo está sempre no cio, hoje certamente ele diria que no Brasil a cadela já teve seu cio, cruzou e está prestes a ter uma ninhada.
O fascismo no século XX foi a saída radical diante da crise e da paralisia do liberalismo encontrada pelo empresariado alemão e italiano e abraçados por amplos setores da classe trabalhadora. O fascismo é projeto autoritário, que radicaliza o senso comum conservador, que visa criar um sentimento de unidade nacional e destruir qualquer tipo de diferença ou oposição. No Brasil, com uma crise econômica cada vez mais profunda, violência em níveis alarmantes e a política cada vez mais desacreditada, não é difícil imaginar que somos um terreno fértil para o fascismo. Não é a toa que o Bolsonaro, sem nenhuma proposta concreta para o Brasil, apenas proferindo tolices e bravatas, desponta em segundo lugar nas intenções de voto.
Todos aqueles e aquelas que defendem a democracia, a liberdade de pensamento e um Brasil mais justo, precisam se organizar e se levantar para enfrentar essa vanguarda do atraso que saiu do armário. Jacob Gorender ao analisar o golpe militar de 1964, observou que faltou aos movimentos sociais do período uma rápida reação ao golpe e organizar a resistência de massas antes que suas redes de mobilização e organização fossem desarticuladas. É preciso não titubear nesses momentos e colocar nosso bloco na rua contra ao retrocesso e o embrião do fascismo.
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